terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ampulhetas


Ampulhetas viradas: é dado seu tempo final. Tive essa certeza entre coisas que não via há tempos, entre nós, que não existimos mais, que resistimos em meio a qualquer coisa ridícula que pareça nos conectar de algum jeito. Isso não é normal. Isso não é justo com ninguém, não pode ser bom pra ninguém que faça visitas, não faz sentido algum, e escrevo quantas vezes for necessário pra tirar tudo isso daqui, eu programo as leis de novo, eu posso organizar tudo outra vez até não ter mais espaço pra você, até não ter mais nada de você por aqui. Eu sou viciada em organizar e não posso aceitar que também seja viciada nessa história.
Encontro razões onde nem existem, repenso outra história e quando vejo cá escrevo de novo, de alguma forma diferente o que penso todos os dias, onde viro ruas e consigo ver retratos em cada calçada, aos poucos acho que as memórias que eram mais intensas vão ficando menos coloridas, já consigo ver em preto e branco, como se fosse parte de um passado tão distante, que em breve tudo vai se misturar no cinza daquelas televisões velhas falhando e chiando. Eu tenho medo em coisas que acredito hoje em dia, algumas certezas que me cheiram a problemas futuros, algumas certezas que anoto em minha agenda como compromissos daqui há alguns anos, porque talvez mesmo com todos os erros, quando essas memórias estiverem ficando cinza você possa aparecer atravessando alguma dessas calçadas, em alguma dessas esquinas, que hoje estão bem vazias. E de novo, não acredito que posso estar te escrevendo mais uma vez. 
Ás vezes penso no tempo como se ele fosse uma ampulheta, como se a gente pudesse dar um jeito de virar o jogo pra viver mais uma vez, como se não tivesse fim e nem mais nada do que fez quebrar, mas compreendo as razões maiores de uma maneira muito forte, nada do que foi poderá ser igual novamente pelo simples fato de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. O nosso tempo acabou, minha certeza não. A ampulheta está virada outra vez. 

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